"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Realengo e a Escola em luto



Até a semana passada as únicas referências que eu tinha do bairro de Realengo no Rio de Janeiro eram da canção "Engenho de Dentro" de Jorge Ben Jor: "Engenho de Dentro, quem não saltar agora só em Realengo. Cuidado para não cair da bicicleta, cuidado para não esquecer o guarda-chuva" e de Gilberto Gil "Aquele abraço": "Alô, alô Realengo, aquele abraço." Eram referências poéticas e alegres para um bairro periférico da metrópole carioca. Um bairro castigado, como tantos outros espalhados pelo Brasil, por ser uma espécie de bairro-dormitório mas cujo histórico está ligado ao Exército (fábrica de armas) e à industrialização no final do século XIX.

Entretanto, todos sabem que Realengo entra agora para o conhecimento público por motivos nada poéticos, econômicos e, muito menos, alegres. O massacre dos estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira chocou a todos e colocou o bairro no mapa da violência brasileira. O pior é que o episódio se deu num lugar em que a violência não deveria existir: a escola.

De tudo que li e vi, uma imagem que me chamou a atenção foi uma ilustração da Folha de São Paulo de 9 de abril, página A2. Nela aparece um desenho infantil, de traços singelos e inocentes em aquarela, onde vemos uma escola com flores e crianças criando um ar lúdico e familiar. Mas quebrando a harmonia do desenho há respingos de sangue manchando o papel. Triste!

Ouvi, hoje pela manhã, pelo rádio, entrevista com a professora que atendeu o ex-aluno assassino antes dele entrar nas salas. Ela comentava a respeito do ambiente desolador que ficaram as salas por onde ele passou: materiais escolares - cadernos, livros, lápis etc - espalhados pelo chão e ensanguentados. Paredes sujas. Carteiras caídas. É difícil imaginar.

Aos meus alunos comentei que a melhor coisa que podemos fazer era mandarmos, mentalmente, os desejos de paz e amor para aqueles que vivenciaram de perto a tragédia. Mas, que, além disso, a melhor homenagem aos que morreram é que valorizássemos o que temos na escola: amigos, aprendizado, socialização, diversão, namoros, esportes etc. Era, possivelmente, o que aqueles jovens que morreram buscavam e foram, definitivamente, impedidos.


Um comentário:

Anônimo disse...

Ei Fernando faça um Post sobre Belo Monte.

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