"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Qual o preço do abacaxi?





Ontem no programa Globo Rural da TV Globo (devo confessar: uma das primeiras coisas que faço nas manhãs de domingo é ligar a TV para ver este programa) foi apresentada uma reportagem sobre a produção de abacaxis pérola no Tocantins.

Após a apresentação do processo de cultivo da fruta a discussão girou em torno do preço do produto. O produtor agrícola vende a R$ 2,70 cada unidade do abacaxi. Perguntaram a um trabalhador desta lavoura se ele sabia a quanto era vendido na cidade. Ele respondeu que não tinha nenhuma idéia. A reportagem acompanha o carregamento e descobre que o abacaxi produzido no Tocantins é vendido em supermercados de São Paulo a R$ 8,00. Se comprá-lo descascado e fatiado o preço chega a R$ 18,00!!!

A reportagem otimista diz algo como "o abacaxi depois que sai de Tocantins continua gerando riqueza: para o motorista que transporta a carga, para os postos de gasolina ao longo da estrada, para o supermercado que vendo o produto ao consumidor final etc."

Ok. Realmente pode continuar gerando riqueza. Só que não há em nenhum momento um questionamento a respeito de como esta riqueza é distribuída. E não é pouca. Um abacaxi que nasce valendo R$ 2,70 e passa a valer no fim R$ 8 passou por um aumento de aproximadamente 300%. O agricultor que arou a terra, depois plantou, aguardou o tempo de crescimento, cuidou da plantação, correu o risco de perder a produção por causa das intempéries, colheu, correu o risco de supersafra e consequente queda do preço do produto etc. acaba ficando com uma parte pequena desta riqueza. O trabalho na terra é desvalorizado.


Não foi questionado o quanto se aumenta o preço do abacaxi por causa do custo embutido por causa dos buracos nas estradas e da ineficiência da infraestrutura de transportes. Não se discute o número de atravessadores (estes ganham muito só por repassar e circular o produto) entre o produtor e o consumidor final. Não se questiona a relação entre produção e consumo deste produto tropical, originalmente brasileiro, que vai para as regiões mais frias do Brasil e, por exportação, do mundo.


Como eu deixei entender, eu gosto do Globo Rural porque traz muitas matérias interessantes e algumas idílicas (é o meu lado roça!). E também é bastante didático em questões geográficas que eu já usei e uso em sala de aula. Agora... daria pra ser um pouco crítico! Nem falo de aprofundar a questão, apenas observassem os vários desdobramentos sócioeconômicos deste ciclo reprodutor de contradições e desigualdades.

Aliás, vocês já viram um pé de abacaxi?

Um amigo foi comigo visitar o sítio de meu avô. Então sugeri que ele conhecesse a plantação de abacaxis já na época de colheira e que ficava ao lado de um pomar. Ao chegar no local ele ficou olhando... olhando... sem abaixar o olhar me falou: Fernando, eu não estou vendo abacaxi nenhum nas árvores!!! hehe... espero que eu não precise te explicar.


Dados:


O Brasil é o terceiro maior exportador de abacaxi, atrás da Tailândia e Filipinas

O maior cliente do Brasil é a Holanda.

O brasileiro consome apenas 50 kg de abacaxi por ano. Na Alemanha é de 112 kg.

Rondônia é o principal produtor do Brasil.


Abacaxi é ótima fonte de cálcio, vitaminas A, B e C.






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