"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Poema do Menino Jesus por Maria Bethania



Poema do Menino Jesus (Fernando Pessoa)

Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair
no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e
humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu
brincar.

FELIZ NATAL!!!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Islândia e Sigur Ros



A Islândia foi um dos países mais afetados com a recente crise financeira global. Pouco conhecida é um país lembrado por ser uma terra de fogo e gelo. Suas paisagens alternam vastos espaços desérticos e gélidos com áreas esfumaçadas por afloramentos vulcânicos e gêiseres. As paisagens desta ilha do mar do Norte dá uma sensação de isolamento, solidão. É pouco conhecida no que se refere à sua produção artística. Talvez o que há de mais famoso é a cantora Björk. Ex-vocalista do extinto Sugarcubes, ela é famosa por sua música experimental e seu estilo excêntrico. Também da Islândia e menos conhecida é o Sigur Ros. Esta é uma banda que também busca um experimentalismo musical com elementos minimalistas. Abaixo uma de suas mais bonitas canções com paisagens islandesas



"Ara Batur" de Sigur Ros

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Casamento



"O casamento (...) é a reunião da díade separada. Originariamente, vocês eram um. Agora são dois, no mundo, mas o casamento é o reconhecimento da identidade espiritual. É diferente de um caso de amor, não tem nada a ver com isso. É outro plano mitológico de experiência. Quando pessoas se casam porque pensam que se trata de um caso amoroso duradouro, divorciam-se logo, porque todos os casos de amor terminam em decepção. Mas o matrimônio é o reconhecimento de uma identidade espiritual. Se levamos uma vida adequada, se a nossa mente manifesta as qualidades certas em relação à pessoa do sexo oposto, encontramos nossa contraparte masculina ou feminina adequada. Desposando a pessoa certa, reconstruímos a imagem do Deus encarnado, e isso é que é a mitologia do casamento. O ritual, que antes representava uma realidade profunda, hoje virou mera formalidade. E isso é verdade nos rituais coletivos assim como nos rituais pessoais, relativos a casamento e religião. Quantas pessoas, antes do casamento, recebem um adequado preparo espiritual sobre o que o casamento significa? Você pode ficar parado diante do juiz e se casar, em dez minutos. A cerimônia de casamento na Índia dura três dias. O par fica grudado! Isso é primordialmente um exercício espiritual, e a sociedade deveria nos ajudar a tomar consciência disso." Joseph Campbell in Poder do Mito

Extraído do blog www.saindodamatrix.com.br

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Filhos


Vossos filhos não são vossos filhos: são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós, e embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós, porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas. O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força, para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: pois assim como ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.
(Gibran Kalil Gibran)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A casa como desejo de aprender


Perguntei-me: Por que é que as crianças têm dificuldade em aprender as coisas que lhes são ensinadas nas escolas, seguindo os programas oficiais? Brunno Bettelheim, já velho, deu a resposta: "Na escola, os professores tentavam me ensinar as coisas que eles queriam ensinar, do jeito como eles queriam ensinar, mas que eu não queria aprender". Para aprender há de querer aprender.(...)
As crianças são naturalmente curiosas. Querem aprender. Então, por que não aprendem? A Maria Alice, psicopedagoga por vocação, me contou algo que uma menininha lhe disse: "O mundo é tão interessante. Há tanta coisa que eu gostaria de aprender. Mas não tenho tempo. Tenho muitas lições de casa para fazer..."O que é que as crianças querem aprender? Ou, mais precisamente, o que é que o corpo deseja aprender? Mas, antes dessa pergunta, vem uma outra: "Por que é que o corpo deseja aprender?" Ele deseja aprender para se virar no mundo. Ele quer conhecer coisas que fazem o seu mundo e afetam a sua vida.(...)
Aí eu me perguntei: "Qual é o primeiro entorno da criança?" Preste atenção nessa palavra "entorno". Ela significa aquilo que está "em torno", o espaço que pode nos dar vida ou matar. O primeiro entorno da criança é a sua casa. Pensei então: "Não seria possível fazer um programa que tomasse a casa como seu objeto? Começar a conhecer o mundo a partir da casa! (...)
Amyr Klink "questionado por um repórter sobre a escola ideal para os seus filhos ele respondeu: "A escola que eu desejaria para os meus filhos é uma escola que há nas Ilhas Faroë, lugar onde viveram os vikings. Lá as crianças aprendem tudo o que devem aprender construindo uma casa..."
(...)

Rubem Alves in Folha de São Paulo, 25 de novembro de 2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Algumas coisas custam mais do que você imagina


"All I need" - Radiohead

Duas crianças em mundos a parte. Estão conectadas pelos sapatos que uma fabrica e a outra usa.


Duas crianças: uma branca, loira. Mais adiante podemos imaginar que se trata de uma criança norte-americana. Outra criança, asiática. Dadas as condições de vida podemos imaginar que pode ser da China, Tailândia, Vietnã ou outro país do sudeste asiático.

A primeira tomada já apresenta diferenças significativas. Enquanto uma criança branca dorme sozinha em sua cama repleta de objetos pessoais crianças asiáticas dividem um espaço que não se pode chamar de quarto, seria um corredor? Seria a diferença da cultura do individualismo ocidental de um lado e do outro o "formigueiro humano" asiático? As crianças asiáticas acordam aos gritos e chutes de uma mulher.

Uma tela dividida. Lado direito e esquerdo? Ou seria hemisfério ocidental e oriental?

A criança branca levanta-se, troca de roupa, muda de lugar (um banheiro) e escova os dentes. Vemos objetos pessoais.
As crianças asiáticas levantam-se e não trocam de roupa. Algumas dormiram sem camisas (faz calor). Uma criança lava-se numa bacia ao lado do lugar onde dormira.

Criança branca- uma casa: sala com eletroeletrônicos, cozinha e uma mesa onde come o menino vendo televisão. Comida e suco.
Criança asiática- uma casa(?)-fábrica-oficina, bancadas com ferramentas e crianças alinhadas. Linha de produção. Menino cuida das solas de sapatos. Solas e cola.

De um lado cores e luz. De outro, preto e cinza, um lugar sombrio.

Criança branca- uma mulher ao fundo parece cuidar porque provavelmente foi ela quem preparou a comida do menino.
Criança asiática- uma mulher que manda e bate na cabeça do menino. Fala de forma imperativa e bate a mão na bancada. O menino não a fita. Seu olhar é baixo.

Criança branca- sai de casa, caminha pela calçada em direção à escola. Pelo caminhar o menino parece ter seu próprio tempo. Não tem pressa.
Criança asiática- vive o tempo da produção. Ele não tem tempo para si.

Menino asiático- toma outro tapa! Olhar baixo.
Menino branco- outro ambiente: sala de aula. Recebe um toque afetivo da professora.
Um livro na mão. Crianças enfileiradas, só que aprendendo. Ele vai até a lousa, professora comenta sua participação.
Menino asiático- sola, cola.

Menino branco- outro ambiente. Jogos, brincadeiras, lanche.
Meninos asiáticos amontoados- outro ambiente? Comem. Alimentam-se?

Menino branco- desenha dragões: símbolo mitológico asiático. Ele vive e estuda sua cultura e ainda pode estudar a cultura do outro.
Menino asiático- não vive. Sola e cola.

Instrumentos e ferramentas:
Caixa de canetas coloridas- a diversidade da vida, o lúdico, a possibilidade de escolha.
Pincel de passar cola e sola- o trabalho forçado, a monotonia do preto e do cinza. Uma vida sem escolhas.

Menino branco- outro ambiente: em casa joga bola.
Menino asiático- cola sola.

Menino branco- no seu quarto troca de roupa. tira os sapatos.
Menino asiático- suas mãos fabricam sapatos que calçam os pés da criança branca.


"Some things cost more than you realise"
Algumas coisas custam mais do que você imagina.


O globo no quarto. Estas duas crianças vivem no mesmo planeta por mais incrível que isto possa ou não parecer.


Elas não tem culpa nem responsabilidade, mas estão cruelmente conectadas. Há uma interdependência que não deveria existir. Elas representam a divisão entre o mundo que pode desfrutar e aquele que apenas tem a mão-de-obra (barata) a vender. É a globalização do capital que integra lugares que consomem e lugares que produzem. É a Divisão Internacional do Trabalho que tem de um lado países de grande concentração de capital, que dominam a tecnologia e comandam. De outro temos países dependentes de capitais e que se subordinam às transnacionais que buscam nestes países somente facilidades para a reprodução do seu capital.
A criança branca pode ser européia, norte-americana.
A criança asiática pode ser do país que está gravado no seu tênis logo depois do "Made in..."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

He's cool!!!



Espero que ele tenha também muito gingado para lidar com tantas expectativas! Boa Sorte!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Free Hugs Campaign by Juan Mann



Esta campanha, de iniciativa do australiano Juan Mann, ocorre em mais de 80 países. Há, inclusive, vídeos disponíveis no Youtube da campanha em São Paulo e Goiânia. Se quiser saber mais ou participar da "Campanha do Abraço Grátis" acesse:
http://www.freehugscampaign.org

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

American Beauty


"Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."
Cena do filme "Beleza Americana", EUA, de 1999. Dirigido por Sam Mendes.