"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Inside Job

À maneira de muitos professores aproveito as férias para me atualizar com o cinema. Costumo assistir muitos filmes que durante o semestre só ouvi comentários. Entre os filmes, que estavam na minha lista já a algum tempo, assisti "Trabalho Interno" (Inside Job, 2010, EUA, dir. Charles Fergunson). Trailer abaixo.



Eu não tinha assistido mas já estava indicando para meus alunos no início deste ano. Alguns torceram o nariz por se tratar de um documentário. Mas depois que ganhou o Oscar de melhor documentário ficou mais fácil de alguns se arriscarem a ver.
Para quem não sabe o documentário narra de maneira bem didática as causas da crise financeira de 2008 e suas consequências. E as causas são bem desagradáveis: o sistema financeiro norteamericano abusou na ganância e criou uma bolha econômica baseada nos créditos imobiliários. As consequências piores ainda: quebradeira global, desemprego, falência generalizada, recessão etc. E o pior: o governo americano salvando os bancos a custos estratosféricos com o dinheiro do contribuinte.
Além da indicação para assistir o filme como meio para entender um pouco como funciona o sistema financeiro global desde a década de 80 (por conta do neoliberalismo e sua desregulamentação financeira) escrevo para expor algo incômodo.
Este tipo de filme dá aquela sensação: "puxa! ainda bem que tem alguém que vai para além da verdade superficial da mídia para nos mostrar a realidade." Ainda bem mesmo! Ótimo trabalho de Fergunson. Mas aí está o problema do... "agora sinto-me melhor informado." Será? Volto a repetir: Charles Fergunson fez um ótimo documentário. Gostei muito. Só que dou o direito de me perguntar... mas isto é tudo? Por que ficam, para mim, questões não respondidas:
A ganância, por mais extrema que seja, justifica o gigantesco rombo criado? Será que tudo se baseia em quantos jatinhos, mansões, iates a mais eu tenho?
Eu faço estas questões porque no filme ficou muito evidente que o governo americano a vários mandatos (antes mesmo de Bill Clinton), se não apoiava, fazia vistas grossas à festa que se armava. E para quem ainda acha que o Barack Obama é renovação tem que, no mínimo, assistir a este filme.
Se o sistema financeiro (bolsa, bancos, seguradoras etc.) é um dos maiores contribuintes das campanhas eleitorais nos EUA e sua estrutura de lobby (gente paga para influenciar -$$$- o congresso) é uma das mais fortes como não pensar na relação poder econômico x poder político?
Se se muda o partido (Republicano ou Democrata) no governo americano e quem deveria regular o sistema financeiro é sempre o mesmo que dele se beneficia quem manda em quem?
A impressão que eu tenho quando vejo estes magnatas do sistema financeiro (ou da mídia, os Murdochs espalhados por aí) tentando se explicar em tribunais é que eu quase consigo ver os fios de marionetes acima deles.
A crise de 2008 já era prevista. É possível encontrar na internet entrevistas e diálogos do início de 2008 onde se comenta o que estava para acontecer no segundo semestre daquele ano. E não eram economistas que falavam (como aparecem no filme prevendo a catástrofe), mas pessoas antenadas à política global.
Por que os maiores responsáveis pela crise que assolou o planeta conseguem sair impunes? Só a relação com o governo explica? Acredito que não.