"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A casa como desejo de aprender


Perguntei-me: Por que é que as crianças têm dificuldade em aprender as coisas que lhes são ensinadas nas escolas, seguindo os programas oficiais? Brunno Bettelheim, já velho, deu a resposta: "Na escola, os professores tentavam me ensinar as coisas que eles queriam ensinar, do jeito como eles queriam ensinar, mas que eu não queria aprender". Para aprender há de querer aprender.(...)
As crianças são naturalmente curiosas. Querem aprender. Então, por que não aprendem? A Maria Alice, psicopedagoga por vocação, me contou algo que uma menininha lhe disse: "O mundo é tão interessante. Há tanta coisa que eu gostaria de aprender. Mas não tenho tempo. Tenho muitas lições de casa para fazer..."O que é que as crianças querem aprender? Ou, mais precisamente, o que é que o corpo deseja aprender? Mas, antes dessa pergunta, vem uma outra: "Por que é que o corpo deseja aprender?" Ele deseja aprender para se virar no mundo. Ele quer conhecer coisas que fazem o seu mundo e afetam a sua vida.(...)
Aí eu me perguntei: "Qual é o primeiro entorno da criança?" Preste atenção nessa palavra "entorno". Ela significa aquilo que está "em torno", o espaço que pode nos dar vida ou matar. O primeiro entorno da criança é a sua casa. Pensei então: "Não seria possível fazer um programa que tomasse a casa como seu objeto? Começar a conhecer o mundo a partir da casa! (...)
Amyr Klink "questionado por um repórter sobre a escola ideal para os seus filhos ele respondeu: "A escola que eu desejaria para os meus filhos é uma escola que há nas Ilhas Faroë, lugar onde viveram os vikings. Lá as crianças aprendem tudo o que devem aprender construindo uma casa..."
(...)

Rubem Alves in Folha de São Paulo, 25 de novembro de 2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Algumas coisas custam mais do que você imagina


"All I need" - Radiohead

Duas crianças em mundos a parte. Estão conectadas pelos sapatos que uma fabrica e a outra usa.


Duas crianças: uma branca, loira. Mais adiante podemos imaginar que se trata de uma criança norte-americana. Outra criança, asiática. Dadas as condições de vida podemos imaginar que pode ser da China, Tailândia, Vietnã ou outro país do sudeste asiático.

A primeira tomada já apresenta diferenças significativas. Enquanto uma criança branca dorme sozinha em sua cama repleta de objetos pessoais crianças asiáticas dividem um espaço que não se pode chamar de quarto, seria um corredor? Seria a diferença da cultura do individualismo ocidental de um lado e do outro o "formigueiro humano" asiático? As crianças asiáticas acordam aos gritos e chutes de uma mulher.

Uma tela dividida. Lado direito e esquerdo? Ou seria hemisfério ocidental e oriental?

A criança branca levanta-se, troca de roupa, muda de lugar (um banheiro) e escova os dentes. Vemos objetos pessoais.
As crianças asiáticas levantam-se e não trocam de roupa. Algumas dormiram sem camisas (faz calor). Uma criança lava-se numa bacia ao lado do lugar onde dormira.

Criança branca- uma casa: sala com eletroeletrônicos, cozinha e uma mesa onde come o menino vendo televisão. Comida e suco.
Criança asiática- uma casa(?)-fábrica-oficina, bancadas com ferramentas e crianças alinhadas. Linha de produção. Menino cuida das solas de sapatos. Solas e cola.

De um lado cores e luz. De outro, preto e cinza, um lugar sombrio.

Criança branca- uma mulher ao fundo parece cuidar porque provavelmente foi ela quem preparou a comida do menino.
Criança asiática- uma mulher que manda e bate na cabeça do menino. Fala de forma imperativa e bate a mão na bancada. O menino não a fita. Seu olhar é baixo.

Criança branca- sai de casa, caminha pela calçada em direção à escola. Pelo caminhar o menino parece ter seu próprio tempo. Não tem pressa.
Criança asiática- vive o tempo da produção. Ele não tem tempo para si.

Menino asiático- toma outro tapa! Olhar baixo.
Menino branco- outro ambiente: sala de aula. Recebe um toque afetivo da professora.
Um livro na mão. Crianças enfileiradas, só que aprendendo. Ele vai até a lousa, professora comenta sua participação.
Menino asiático- sola, cola.

Menino branco- outro ambiente. Jogos, brincadeiras, lanche.
Meninos asiáticos amontoados- outro ambiente? Comem. Alimentam-se?

Menino branco- desenha dragões: símbolo mitológico asiático. Ele vive e estuda sua cultura e ainda pode estudar a cultura do outro.
Menino asiático- não vive. Sola e cola.

Instrumentos e ferramentas:
Caixa de canetas coloridas- a diversidade da vida, o lúdico, a possibilidade de escolha.
Pincel de passar cola e sola- o trabalho forçado, a monotonia do preto e do cinza. Uma vida sem escolhas.

Menino branco- outro ambiente: em casa joga bola.
Menino asiático- cola sola.

Menino branco- no seu quarto troca de roupa. tira os sapatos.
Menino asiático- suas mãos fabricam sapatos que calçam os pés da criança branca.


"Some things cost more than you realise"
Algumas coisas custam mais do que você imagina.


O globo no quarto. Estas duas crianças vivem no mesmo planeta por mais incrível que isto possa ou não parecer.


Elas não tem culpa nem responsabilidade, mas estão cruelmente conectadas. Há uma interdependência que não deveria existir. Elas representam a divisão entre o mundo que pode desfrutar e aquele que apenas tem a mão-de-obra (barata) a vender. É a globalização do capital que integra lugares que consomem e lugares que produzem. É a Divisão Internacional do Trabalho que tem de um lado países de grande concentração de capital, que dominam a tecnologia e comandam. De outro temos países dependentes de capitais e que se subordinam às transnacionais que buscam nestes países somente facilidades para a reprodução do seu capital.
A criança branca pode ser européia, norte-americana.
A criança asiática pode ser do país que está gravado no seu tênis logo depois do "Made in..."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

He's cool!!!



Espero que ele tenha também muito gingado para lidar com tantas expectativas! Boa Sorte!