Neste início de ano em São Paulo foi travada uma discussão, entre prefeitura e o setor de publicidade, a respeito da nova lei municipal que restringe toda propaganda externa. Isto significa que estão proibidos outdoors, painéis eletrônicos, banners, faixas etc. no município de São Paulo.
Votada na câmara municipal a lei só teve um voto contrário: do vereador Dalton Silvano (PSDB) que foi diretor do Sindicato dos Publicitários do Estado de São Paulo na década de 80. Ele alega, entre outras coisas, que "uma cidade sem publicidade é uma cidade fria".
São Paulo sem publicidade externa não significa que terá a paisagem árida das cidades do leste europeu durante a Guerra Fria. Como gostam de mostrar filmes hollywoodianos típicos do período: uma paisagem monótona, como se só a publicidade e o capitalismo fossem capazes de injetar vida e calor numa cidade. Talvez seja isto que o vereador pense.
Além desta lei, há um outro projeto também em execução ainda referente à poluição visual da cidade: a obrigatoriedade de tornar subterrâneo toda a fiação e cabeamento. Se a lei for levada à risca quem sabe teremos, daqui a algum tempo, uma cidade livre do emaranhado de fios que já fazem parte da paisagem paulistana.
A poluição visual proporcionada pela publicidade, comunicação visual, fiação e outros na cidade de São Paulo é violenta. E, como nos acostumamos à violência também nos acostumamos à poluição. Precisamos reeducar nossa sensibilidade ao que vemos, cheiramos, ouvimos etc. Para quem trabalha e vive na 25 de março os outdoors e o barulho dos automóveis das principais avenidas podem não significar muita coisa. Mas quem mora em bairros com uma legislação mais restritiva quanto à poluição (é o caso dos bairros elitistas do Pacaembu e Jardins) deve saber que há uma grande diferença.
***
A questão da poluição e como estamos acostumados à ela remetem a trechos da carta do chefe Seattle aos presidente dos EUA quando este último se propôs a comprar as terras indígenas. Detalhe: a carta é de 1855 e já mostra o índio preocupado com aquilo que poucos homens brancos se preocupavam naquela época: poluição visual, sonora e olfativa. Alguns trechos da carta:
"Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro." (...)
"Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.". (...)
"Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o fim do vida e o início da sobrevivência".
Nada mais atual. Eu não posso deixar de fazer a pergunta batida e óbvia: quem é o selvagem?
Cada frase da resposta do Chefe Seattle ao presidente dos EUA daria um post a parte. Há várias versões, de acordo com as traduções realizadas, da carta. É possível encontrar duas delas clicando aqui.
5 comentários:
Fala professor...
fico feliz em você voltar com seu blog. Acho um espaço legal pra expor idéias, publicar textos importantes ou simplesmente poéticos e artísticos... tenho um link do seu blog no meu e entrarei sempre que possível pra ver suas publicações.
Os projetos os quais você se referiu são realmente muito bons!!! Seria bom dizer quem é o "dono" dessas idéias... Enterrar os fios, se eu não me engano, foi um projeto do prefeito neh?!?! Bom, como diz meu pai, a Avenina Paulista é bonita, como é, principalmente pelo fato de não ter fios e postes... muitas vezes não se pode plantar árvores na fernte dos prédios e casas porque as mesmas iriam um dia tomar o espaço dos fios. Mas na verdade foram os fios que tomaram o espaço das árvores... Esse projeto é um pouco complicado para uma cidade como São Paulo, mas vamos confiar e torcer para ele dar certo.
Como estão suas férias? Acabei de comprar um baixo novo. Mandei para um luthier... ele vai tirar os trastes pra deixar o braço liso e virar um baixo fretless. Vai ficar muito louco. Totalmente JAZZ! Ando meio preocupado com o Taubaté... o campeontao está pracomeçar e ninguem se preocupa com contratações... tá todo mundo preocupado em quem manda no futebol do clube. Acho que 2007 será um ano de vergonha para nós...
Já escrevi demais... a gente se fala... abraços!!!
A idéia das fiações é boa.
Pelo menos a garotada que empina pipa aqui na rua não ia cortar os fios do telefone bem na hora que eu quero usar --'
Saudades das minhas recomendações musicais? haha
Fala meu amigo, tudo bem?
Fiquei feliz em saber que vc agora tb está no João XXIII é uma ótima escola. Cuidado apenas com a direção, são ultrapassados e com capacidade duvidosa, com o tempo vc perceberá! quanto aos professores são excelentes, graças ao trabalho deles o Colégio ainda tem credibilidade! Desejo a vc muita sorte vc merece! Ótimo retorno.
Abraços.
Fala meu querido!!!
Enternecida e relevante é sua preocupação com as diversas poluições das metrópoles. Na condição TRIcolor gostei tambem de sua homenagem ao velho mestre Telê!
Dê uma olhadinha no meu blog tambem!
http://filosofossuicidas.blogspot.com/
abraço
Postar um comentário