"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Sem eles...

Ao falar numa aula sobre os fluxos migratórios internacionais citei o filme
Um Dia Sem Mexicanos (Day Without a Mexican, A, 2004 - Direção: Sergio Arau. Espanha/Estados Unidos/México. 100 minutos.) que mostra uma Califórnia em pânico porque num dia, um terço de sua população desaparece. Só que "detalhe"... os 14 milhões de desaparecidos são latinos: entregadores de pizza, policiais, médicos, operários e babás que garantiam o bem-estar da população branca. Daí os californianos começam a perceber a importância dos antes desvalorizados latinos e, sobretudo, mexicanos.

E também citei algo que aconteceu, de fato, nos EUA, recentemente:

"Centenas de milhares de imigrantes e seus defensores deixaram o trabalho, escola e as compras na segunda-feira, marchando em dezenas de cidades de costa a costa. As manifestações (...) sinalizaram a determinação daqueles a favor do relaxamento das leis do país sobre imigração ilegal. (...)
Lojas e restaurantes em Los Angeles, Chicago e Nova York ficaram fechados porque os trabalhadores não compareceram (...). Alface, tomate e uvas não foram colhidos em campos na Califórnia e Arizona, que contribuem com mais da metade da produção do país, (...). Os caminhoneiros que transportam 70% dos bens em portos em Los Angeles e Long Beach, o mais movimentados do país, não trabalharam. Frigoríficos, incluindo Tyson e Cargill, fecharam suas fábricas no Meio-Oeste e no Oeste, que empregam mais 20 mil pessoas, enquanto os amplos mercados de flores e de produtos hortifrutigranjeiros no centro de Los Angeles permaneciam estranhamente vazios."
The New York Time, 02/05/2006.

Perguntei aos alunos, os ditos "paulistanos da gema":
E aí, e se acontesse dos nordestinos, que moram e trabalham em São Paulo, resolverem fazer a mesma coisa: parar!? Ou então, como no filme, se eles simplesmente desaparecessem da cidade?

Obviamente sempre tem aqueles (uma minoria) com suas respostas prontas e preconceituosas.
Para estes os nordestinos só atrapalham. Eu preciso lembrá-los do quanto os nordestinos participam efetivamente das suas (e nossas) vidas: porteiros, empregadas domésticas, faxineiras da escola, professores, escritores, artistas e outras tantas pessoas...
Mesmo assim, às vezes, é díficil convencer da interdependência.

O engraçado é que a maioria dos alunos é descendente de imigrantes: italianos, portugueses, espanhóis e eslavos que vieram para São Paulo durante o período de vacas magras da Europa. Assim como os nordestinos migraram para tentar o melhor aqui em São Paulo. A diferença é que eles (seus avós e bisavós) vieram antes. Se, grosso modo, devemos, em parte, aos imigrantes estrangeiros a São Paulo industrializada, devemos então aos nordestinos da São Paulo transformada em metrópole. Esta primeira fase, dos imigrantes, aqui assinalada, é cercada de certa nostalgia por causa da São Paulo antiga, belle époque, da São Paulo da garoa, do cosmopolitanismo nascente etc... Já a segunda, dos nordestinos, carrega os traumas do inchaço urbano: déficits habitacionais, trânsito, poluição, periferização sem fim etc... No entanto ambos são partes de um mesmo processo.

Resposta para os alunos: São Paulo não é a mesma sem nordestinos e sem os imigrantes. Mostro São Paulo através das janelas, de onde se vê uma cidade extensamente verticalizada, e digo: "Sem eles esta riqueza não existiria."
O problema é que uma parte deles não consegue (ainda, espero eu!) ver além.

4 comentários:

Anônimo disse...

É só pensar que sem a migração, minha mãe não teria vindo prá cá e eu não viveria em São Paulo. Imagina comos eria sua vida sem ter dado aula prá mim????? HAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Anônimo disse...

E ó, pode tirar esse Fernando daí, o seu nome é Tony!!!!!!!

Anônimo disse...

Algumas coisas são necessárias a serem ressaltadas: uma dela é a questão embranquecimento da nossa cultura...Esse xenófago regionalista paulistano é muito comum nas rodas de conversa, todavia é preciso lembrar a estas pessoas que o Brasil é um país multiétnico e portanto não existe um lugar onde prevaleça "uma europa " no Atlântico...Não podemos também desprezar que esses valores são de origem burguesa e de classe média -alta...Acordem garotos!!!Estamos no século XXI e a tendência é cada vez mais extinguir-se esse conceitos ultrapassados...Agora diga-lhes que a grande massa de representação no Congresso Nacional e no Senado são de políticos nordestinos...Não criemos a falsa ilusão dos "Severinos-porteiros" ou de "Marinetes" faxineiras...Temos Luiza Erundina que reestruturou a educação Municipal em São Paulo no fim da década de 1980...E o grande Graciliano Ramos...é aquele lá que tem que estudar para o vestibular...Ah, me esqueci do José de Alencar...e por aí vai...

Isis B. disse...

oi,Tony!
Eu só dei férias para o blog para colocar algumas coisas pessoais em dia, mas continuo lendo os blogs dos outros!
hehe, ganhaste um link lá no meu blog, depois dá uma olhada.
Beijos
Clem