"-... esse sujeito de quem estou falando trabalhava como domador de cavalos (...) parecia ter sido feito por encomenda para domar os potros; mas a verdade é que ele tinha outro ofício: o de 'provocador'. Era provocador de sonhos. Isso é que ele era realmente." Pedro Páramo, Juan Rulfo.

domingo, 14 de maio de 2006

O provocador...

O título do blog tem razão de ser. Como é possível perceber, ela surge a partir de um trecho do romance Pedro Páramo de Juan Rulfo. O trecho é uma descrição de um personagem que é um domador de cavalos. No romance, ele não é um protagonista, nem tem grande importância ao longo da história, mas me chamou a atenção a descrição.
Alguém, ano passado, escreveu que, entre outras coisas, minha vida, de professor, era "ensinar os potros a cavalgarem com as próprias patas." Isto era uma referência à canção Wild horses do Rolling Stones. Esta é música de fundo do meu discurso de paraninfo exposto no site do colégio onde trabalho (ainda acessível ). A música eu tinha escolhido a dedo. Achei o letra e a melodia adequada para o contexto do discurso. Mas não para por aí. A citação continua e diz que mais que um domador de potros o personagem tinha outro ofício: era um provocador de sonhos. Achei esta descrição belíssima. Eu me perguntei que profissional ou que pessoa poderia ter tal função: provocar sonhos?
Achei que tinha tudo a ver com o trabalho do educador que fica bem além do trabalho do professor.
O professor se volta para as questões práticas da vida. Ensina o aluno a partir de receituários contidos em livros ou apostilas. Muitas vezes ensino o inútil, útil apenas para o próximo exame ou para o vestibular. Os conteúdos, para o professor, são quase sempre um fim em si mesmo.
Já o educador precisa lidar, muitas vezes, com a subjetividade. E sonhos talvez sejam sua analogia mais precisa. Educador há de lidar com as esperanças, as idéias, as emoções, os sentimentos etc. O educador desperta a sensibilidade, tem de trazer à tona a essência humana. É da sua função ser provocativo para despertar o que adormece. A provocação nasce da necessidade de fazer mudar aquilo que parece estar consolidado, concluído, definido etc.
O professor ensina a andar. O educador ensina a dançar.
Educador sou às vezes. Sou mais professor que educador.
Fiquei com a idéia na cabeça. Quando decidi escrever um diário virtual precisei de um nome. Acho que o título cabe aqui já que faz referência a um dos assuntos a serem abordados neste blog: o cotidiano escolar. Aos poucos outros assuntos aparecerão. É isso.

2 comentários:

Anônimo disse...

O fato de lidar com pessoas que estão em processo de formação é algo bastante peculiar...Remeto-me a transcedência onde o educador envolve em sua prática didática,isso decorre de paixão, já que aquele que desperta amor pelo que faz desponta um "motivo" ao fazê-lo...Isso é bastante comum no apecto "Fenomenológico" de lecionar isso baseia-se no ato em si desvinculando-se de teorias prontas e acabadas...esse processo é puro e simples passível de construção e de reinvenção...Um novo conceito é formado e de então margeiam-se questões e proposições explícitas ou implicitas...Parabéns a sua iniciativa..
Um super beijo
Lilith

Fernando disse...

Querida, é isso mesmo. Ainda mais para frente (quando eu tiver tempo) escreverei sobre este assunto e que para tanto não existe receita. Se decorre de paixão, não há receitas. Seja sempre bem vinda e obrigado.